EXPANSÃO DA REDE
O planeamento do sistema eléctrico a longo prazo só é possível conhecendo a distribuição territorial da procura. Esta distribuição depende não só da localização das populações e actividades económicas no território e sua evolução, mas também das decisões de investimento que vierem a ser tomadas ao nível da expansão da rede e da distribuição de energia eléctrica. A existência de rede eléctrica é fonte de desenvolvimento e razão suficiente para a mobilidade das populações, com influência determinante na evolução geo-espacial da procura.
A estratégia de electrificação que suporta a visão Angola 2025, teve por base a racionalidade económica e critérios de equilíbrio territorial de modo a que a alocação de recursos financeiros fosse feita de forma optimizada garantindo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento equilibrado do País e a redução das assimetrias regionais.
Reconhecendo o esforço financeiro que representa o processo de electrificação e de forma a diferir no tempo os investimentos a efectuar, deverão ser estabelecidos critérios de prioritização das localidades a electrificar por Província, de acordo com orientações estratégicas de desenvolvimento dos Municípios, num determinado horizonte temporal, em concordância com os Governos Provinciais.
Assim sendo, foi realizado o planeamento geo-espacial de rede eléctrica na óptica do consumo à escala nacional, de acordo com os seguintes passos:
i) Avaliação do consumo potencial: Foram identificados todos os locais habitados ou onde existam projectos industriais, ao longo do país, e caracterizada numa base geográfica, a possível evolução e o consumo potencial da totalidade da população.
ii) Planeamento da Electrificação: A partir da rede existente e planeada até 2017, foram identificados todos os locais que, técnica e economicamente, de acordo com critérios de qualidade de fornecimento, racionalidade de investimento e baixos encargos de exploração, deveriam ser interligados à Rede Nacional por via do crescimento da rede eléctrica. As localidades que não cumprem os critérios anteriores foram consideradas para electrificação de forma isolada através de geração descentralizada.
iii) Modelos de Electrificação: Considerando a meta de 60% de electrificação do País, foram estudados e ponderados 3 modelos alternativos de prioritização dos investimentos e electrificação do território no horizonte 2025.
MAPA DA DISTRIBUIÇÃO DOS AGREGADOS POPULACIONAIS DE ANGOLA
i) AVALIAÇÃO DO CONSUMO POTENCIAL
Tendo como base os resultados preliminares do censo populacional realizado em 2014, a caracterização do consumo potencial implicou a geo-referenciação e estimativa de número de casas em mais de 22.000 pontos de consumo ao longo do território (conforme mapa abaixo).
Os resultados obtidos demonstram não só o peso das capitais de província, mas também a elevada densidade populacional na região do planalto central, nomeadamente nas províncias de Benguela, Kwanza Sul, Huambo, Huila e Bié (parte oeste), onde se encontra cerca de 40% do total da população do país.
Nas províncias do norte, apesar da menor densidade populacional, verifica-se uma grande dispersão de pequenos núcleos populacionais ao longo de todo o território. No Leste e na Província do Namibe verificam-se os menores níveis de densidade do país com a população mais concentrada, em termos relativos, nas capitais de província e organizada ao longo das principais vias de comunicação.
Finalmente, a província de Cunene apesar de ter quase um milhão de habitantes, apresenta um modelo de ocupação do território muito diverso do restante país com a população em redor da fronteira com a Namíbia e de Ondjiva, dispersa em milhares de núcleos multi-familiares que se estendem por milhares de quilómetros quadrados.
A quantificação do potencial de consumo em cada ponto foi estimada classificando todos os 22.000 locais de consumo em 6 categorias de desenvolvimento económico e densidade populacional, tendo em consideração quer a localização de cada zona nos eixos de desenvolvimento territorial da Estratégia Angola 2025, quer as categorias administrativas, conforme se apresenta na tabela.
MAPA DE CLASSIFICAÇÃO DOS AGREGADOS POPULACIONAIS DE ANGOLA
CLASSIFICAÇÃO POR ZONA DOS 22.000 LOCAIS IDENTIFICADOS
Os consumos domésticos por habitante e o peso dos serviços foram estimados para cada uma das zonas e calibrados com os níveis médios verificados e projectados no capítulo anterior. Consideraram-se também taxas de crescimento da população diferenciadas por zona de modo a reflectir a migração das zonas mais rurais para as zonas mais desenvolvidas.
Para avaliação do consumo potencial por local considerou-se ainda o consumo da indústria, tendo-se geo-referenciado e caracterizado o consumo dos projectos estruturantes e pólos de desenvolvimento identificados.
ii) PLANEAMENTO DA ELECTRIFICAÇÃO
O planeamento da rede eléctrica deverá ter em perspectiva uma visão da electrificação total de Angola. A rede deve crescer de forma progressiva e ser dimensionada de forma a poder responder no longo prazo às necessidades da demanda, evitando investimentos que rapidamente fiquem obsoletos ou que se venham a verificar desnecessários.
Com base nesta premissa, o algoritmo de extensão da rede foi desenvolvido de forma a interligar progressivamente os cerca de 22.000 locais de consumo, por ordem da menor distância a percorrer por unidade de consumo, até atingirem as subestações existentes e as subestações planeadas. Sempre que se verificou (para uma localidade ou conjunto de localidades), que a qualidade de fornecimento de electricidade não era garantida, ou que o valor de investimento e encargos de exploração da rede eram demasiado elevados, foi considerada a alternativa de electrificação com base em geração descentralizada.
Assim sendo, temos que cerca de 13.000 locais, com consumos médios em redor dos 10 kW por local, encontram-se a distâncias demasiado elevadas para justificar a extensão da rede. Desses, alguns locais mesmo agrupados em pequenas redes locais (cerca de 1.800), não cumpriram os pressupostos mínimos para justificar a interligação à rede.
No geral, apenas 7% da população de Angola será fornecida por geração descentralizada, representando apenas 2% do consumo doméstico potencial. Por outro lado, cerca de 9.000 locais de consumo que representam 93% da população angolana e 98% do consumo poderão ser electrificados por extensão da rede.
No mapa podemos ver os resultados do algoritmo de extensão de rede, nomeadamente todos os locais que no longo prazo será economicamente vantajoso ligar à rede, bem como as mini-redes isoladas que não cumprem os pressupostos mínimos para se interligarem à rede. As diferentes cores representam a ordem e prioridade de ligação.
RESULTADOS DO ALGORITMO DE EXPANSÃO DA REDE
Com base nestes resultados do algoritmo de expansão é determinada a soma agregada dos locais e respectivos consumos que servirão de base para cálculo de subestações de transformação que ligarão à rede interligada. O mapa abaixo apresentado mostra o modelo de electrificação total do território interligando a rede existente às novas sub-estações com base na optimização das distâncias, cargas e níveis de tensão.
A electrificação de Angola por extensão da rede poderá ser abrangente a 93% da população, 100% das sedes de município e 70% das sedes de comuna (cerca de 391). A generalidade das províncias com excepção do Cunene, Uíge e Malange, obteriam taxas de ligação à rede na ordem dos 90%, conforme gráfico da figura 14 e 7% da população angolana, que representa 2% do consumo, poderá ser electrificada por sistemas descentralizados como sejam mini-hídricas, sistemas fotovoltaico ou geração diesel convencional.
PERCENTAGEM DE ELECTRIFICAÇÃO (EXTENSÃO DA REDE E MINI-REDES ISOLADAS)
MAPA DA REDE ELÉCTRICA E SUBESTAÇÕES NO CENÁRIO DE ELECTRIFICAÇÃO TOTAL
iii) MODELOS DE ELECTRIFICAÇÃO
A electrificação plena do território representa um desafio técnico e financeiro não compatível com o horizonte 2025. Assim sendo, a presente visão assume a meta e compromisso de levar a rede eléctrica e serviços modernos de energia a 60% da população até 2025, o que implica mais do que triplicar a base de clientes actualmente existente. Devido à elevada concentração da população nas capitais de Província e áreas urbanas é possível atingir a meta dos 60% de diversas formas, tendo sido avaliadas 3 alternativas:
Modelo de “Baixo investimento”:
Modelo baseado na expansão da rede com minimização de investimento, optando por maximizar a penetração de cada zona electrificada antes de realizar investimento em novas subestações e linhas de transporte. Este modelo incide na electrificação quase plena de todas as capitais de Província levando a rede a apenas 74 sedes de município.
As restantes sedes seriam electrificadas por pequenos sistemas isolados, com maiores custos de funcionamento mas menor investimento, menor número de clientes e menor nível de serviço. Este modelo não é desejável pois incentiva a assimetria do território, o êxodo do campo para a cidade e não cria oportunidades de desenvolvimento no meio rural (figura abaixo).
Modelo “Expansionista”:
Modelo baseado na expansão da rede a todas as sedes de município até 2025, lançando toda a espinha dorsal da rede a 60kV neste horizonte. Neste modelo, a prioridade estaria na extensão da rede e não na sua densificação, prevendo-se que apenas metade da população – correspondente aos núcleos centrais – em cada um dos locais fora das capitais de província seria abastecida até 2025. Este modelo evita os sistemas isolados, mesmo que haja alternativas hidroeléctricas que tornem essa opção economicamente mais vantajosa. Neste modelo a rede chegaria a 100% das sedes de município até 2025 (figura abaixo).
Modelo “Equilíbrio ou Economicista”:
Modelo próximo do expansionista, mas que opta por sistemas isolados mantendo o nível de serviço, quando existem alternativas mini-hídricas competitivas ou quando as distâncias a percorrer por unidade de consumo são demasiado elevadas. Este modelo teve ainda em consideração as opções ao nível da extensão de rede e electrificação rural já em curso. A rede interligada abrange 130 sedes de município (figura abaixo).
Em todos os modelos, devido ao elevado grau de concentração da população angolana na capital do país, demais capitais de província e sedes de município, será possível atingir a meta dos 60% através de uma electrificação concentrada nas áreas urbanas, com maior ou menor incidência nas sedes de município, consoante o modelo.
MODELOS DE ELECTRIFICAÇÃO ALTERNATIVOS PARA ATINGIR OS 60% DE ELECTRIFICAÇÃO EM 2025
O modelo economicista ou de equilíbrio é aquele que melhor cumpre as aspirações da Estratégia Angola 2025 ao promover um modelo mais equilibrado de desenvolvimento do território e ao optimizar os custos globais da electrificação, incluindo os custos de funcionamento. A solução de baixo investimento assentaria muito em geradores com elevados custos de funcionamento e ofereceria um serviço limitado em muitas sedes de município.
De acordo com este modelo,até 2025 a rede interligada chegará a 60% da população. Cerca de 1% será electrificada através de sistemas isolados ou pequenos sistemas solares. Neste modelo, apenas 31 sedes de município serão servidas por sistemas isolados. Com excepção da província do Cunene, em todas as restantes províncias a rede servirá pelo menos 30% da respectiva população (conforme gáfico abaixo apresentado) com Luanda a atingir os 90%.
DISTRIBUIÇÃO DA CARGA POR SISTEMA
De acordo com os critérios adoptados para electrificação no modelo “Economicista ou de Equilíbrio” obtém-se uma repartição de cargas entre os sistemas que permite um maior equilíbrio regional e territorial do país. O Sistema Norte crescerá de 1 GW para 4,3 GW, mas verá o seu peso reduzir de 80% para 60%. O Sistema Centro vem a seguir com 19%, o Sistema Sul com 11%, o Sistema Leste com 7% e Cabinda com 3%.
TAXA DE ELECTRIFICAÇÃO POR PROVÍNCIA EM 2025 NO MODELO DE EXPANSÃO "ECONOMICISTA OU DE EQUILÍBRIO”
DISTRIBUIÇÃO DA CARGA POR SISTEMA ATÉ 2025