NOVAS GRANDES HÍDRICAS

Angola apresenta um recurso hídrico excepcional caracterizado por inúmeros rios com caudais elevados e quedas significativas, com destaque para as associadas ao desnível entre o planalto central e o nível das águas do mar.
A energia hidroeléctrica tem sido aproveitada com sucesso em Angola desde a década de 50 e 60, tendo-se construído na altura vários aproveitamentos hidroeléctricos, designadamente, Cambambe, Mabubas, Biópio, Matala e inúmeras pequenas hidroeléctricas. Destas destaca-se o aproveitamento de Cambambe com 260 MW, construído entre 1958 e 1963 e actualmente em reabilitação e ampliação, através do alteamento e construção da segunda central.

O Plano de Acção 2013-2017 dá elevada prioridade à energia hidroeléctrica com destaque para o alteamento e construção da 2ª central de Cambambe e para a construção do aproveitamento hidroeléctrico de Laúca, estimando-se que em 2017/2018 a potência instalada hídrica, considerando Laúca, possa atingir 4 GW representando cerca de 70% da potência total instalada em Angola.
O mapa seguinte apresenta os aproveitamentos incluídos nos 4 GW previstos instalar até 2017, representando-se com simbologia diferente os aproveitamentos já existentes ou em construção e os aproveitamentos previstos. Acrescem a estes aproveitamentos vários grandes investimentos hidroeléctricos, cuja opção é assumida no Plano de Acção 2013-2017 – Baynes, Caculo Cabaça, Jamba Ya Mina, Jamba Ya Oma, Cacombo e as hídricas do projecto hidrotérmico – mas que só deverão entrar em funcionamento após 2017. Alguns dos empreendimentos previstos poderão ser construídos de forma faseada com vista a optimizar a sua integração no sistema.
No longo prazo, a energia hidroeléctrica é assumida como prioritária quer pela Política de Segurança Energética, quer pela própria Estratégia Angola 2025 que prevê que no período 2015-2025 Angola retire partido da sua posição privilegiada nos recursos hídricos. Apesar dos elevados investimentos previstos até 2017 Angola apenas utilizará cerca de 30% do seu potencial estimado em 18,2 GW (gráfico abaixo).

POTENCIAL DOS PROJECTOS HÍDRICOS EXISTENTES/PREVISTOS

APROVEITAMENTOS HIDROELÉCTRICOS EXISTENTES OU EM CONSTRUÇÃO E PREVISTOS

Os aproveitamentos previstos constituem o ponto de partida para a presente estratégia, prevendo-se no caso de Caculo Cabaça e região Centro a possibilidade de fasear e optimizar as soluções previstas face às necessidades no horizonte 2025.

O estudo procurou caracterizar todos os restantes candidatos conhecidos entre os 18 GW de potencial identificado através de uma avaliação ambiental estratégica que se apresenta neste capítulo. De modo a garantir a avaliação de todas as possibilidades de forma abrangente, evitando que novos candidatos coloquem em causa a estratégia até 2025, foram identificados através de uma pesquisa exaustiva nos arquivos existentes, em Angola e em Portugal, 159 locais que tinham sido identificados e estudados no passado (ver mapa).
Dos 159 locais identificados foram excluídos 54 pelos seguintes motivos: a) estarem construídos, em construção ou decidida a sua construção; b) localizados em troços fronteiriços de rios internacionais; c) cuja finalidade primária seja a rega ou o abastecimento de água; d) ausência de localização precisa; e) dados disponíveis insuficientes para a caracterização dos projectos.

Os 105 locais remanescentes foram avaliados e hierarquizados de forma preliminar de acordo com uma matriz multicritério que ponderou o impacto em áreas protegidas, na navegabilidade dos rios, a produção de energia e o seu custo estimado de produção, bem como o nível de prioridade das províncias beneficiadas, tendo-se seleccionado cerca de 50 locais para um segundo nível mais detalhado de análise.
Os cerca de 50 locais foram avaliados adicionalmente ao nível do impacto das respectivas albufeiras nas áreas protegidas, população e infraestruturas, ao nível dos volumes armazenados e impacto na restante bacia, e finalmente ao nível de questões ligadas à construção como distância à rede e acessibilidades. Deste último nível de avaliação resultaram cerca de 20 locais considerados como prioritários a integrar a avaliação ambiental estratégica.

MAPA COM 159 APROVEITAMENTOS IDENTIFICADOS E SELECÇÃO

OS LOCAIS SELECCIONADOS

A selecção dos locais procurou incluir não só os aproveitamentos a fio de água mais competitivos, mas também os aproveitamentos de regularização a montante que permitem aumentar a produção a jusante.

Os aproveitamentos totalizam uma potência de 4 GW e localizam-se nas bacias com maior potencial do país (Kwanza, Queve, Longa, Catumbela e Cubango). Considerando os restantes aproveitamentos em curso ou decididos, a presente estratégia tem em consideração mais de 50% do potencial do país.

Estes aproveitamentos foram estudados e actualizados com um aumento considerável do nível de detalhe relativamente aos estudos existentes, tendo em alguns casos sido aplicadas novas tecnologias de construção e equipamentos, ajustadas a localização e implantação das principais estruturas, simulada a exploração ao longo da cascata, realizado o pre‑dimensionamento, e ainda a estimativa orçamental dos principais órgãos.
Apresenta-se nas páginas seguintes um resumo das principais características e o exemplo de alguns dos principais desenhos técnicos de alguns dos aproveitamentos seleccionados nas bacias do Cuanza, bacia do Longa, bacia do Queve, bacia do Cubango e bacia do Catumbela.

EXEMPLO DE ESTUDOS ANTIGOS QUE FORAM ACTUALIZADOS PARA OS 20 LOCAIS

APROVEITAMENTOS SELECCIONADOS E DIMENSÃO

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA

A avaliação ambiental estratégica é um instrumento de avaliação de impactes que actua ao nível estratégico e que contribui para a integração das questões e objectivos ambientais e de sustentabilidade nos planos onde é aplicada.
Face ao significativo impacto ambiental de uma central hidroeléctrica e à relevância desta fonte energética para Angola, importa garantir que as opções até 2025 têm também em consideração critérios ambientais, procurando desta forma mitigar o risco de inviabilização dos projectos em fases posteriores.
Os aproveitamentos de regularização têm características distintas dos restantes pois, apesar de normalmente implicarem maior investimento e impacto no ambiente, valorizam os demais aproveitamentos a jusante. Optou-se por isso por uma avaliação não só de cada aproveitamento individualmente, mas também das combinações de aproveitamentos de jusante com a respectiva solução de regularização. No caso do rio Catumbela, apenas o aproveitamento de Cacombo foi estudado em conjugação com os restantes aproveitamentos a jusante.

Os aproveitamentos ou conjuntos de aproveitamentos foram avaliados e comparados em inúmeras variáveis, agrupadas ao longo de 3 dimensões principais:

  • Potencial hidroeléctrico: onde se ponderam a potência instalada e garantida, o custo nivelado de produção de energia, a rentabilidade e a distância ao centro de consumo que abastece.
     
  • Potencial da bacia hidrográfica e desenvolvimento regional: onde se ponderam o potencial de regularização – medido pela capacidade de armazenamento, factor de regularização, reversibilidade e potência a jusante –, o potencial para abastecimento humano e agrícola, o nível de interioridade e o potencial para desenvolver novos centros de consumo no país.
     
  • Impacto ambiental e condicionantes: onde se ponderam a área inundada de cada aproveitamento e o seu impacto em áreas ambientalmente protegidas, nas várias espécies identificadas - em particular nas espécies de mamíferos, repteis, peixes e anfíbios ameaçadas e/ou endémicas –, na população aí residente, no património arqueológico, histórico e edificado, nas infraestruturas - ao nível das estradas, pontes e canais – e nas actividades económicas do sector mineiro e agrícola.

 

CRITÉRIO UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA

Com base nos critérios foram estabelecidos 3 cenários com diferentes pesos de cada um dos critérios para hierarquização dos aproveitamentos a considerar no horizonte 2025. Todos os cenários assumem o mesmo peso da componente ambiental, variando o peso do potencial hidroeléctrico com o de desenvolvimento regional. No primeiro cenário, de optimização económica, privilegia-se o potencial hidroeléctrico. No segundo cenário, de equilíbrio economia/território – o potencial hidroeléctrico e de desenvolvimento regional têm o mesmo peso. No terceiro cenário, privilegia-se o desenvolvimento regional.

CENÁRIOS DE AVALIAÇÃO E PONDERAÇÃO DE CRITÉRIOS

A hierarquização dos aproveitamentos em cada um dos cenários - conforme se apresenta na lista da figura 30, ponderou, quer as pontuações individuais – que se apresentam no mapa -, quer as das combinações dos aproveitamentos em cascata.

Nos cenários económico e de equilíbrio economia/território o aproveitamento de Calengue no rio Catumbela assume-se como o aproveitamento prioritário, pela sua competitividade, integração na cascata e reduzido impacto ambiental. No cenário de optimização económica os aproveitamentos do Kwanza (Zenzo 1 e Túmulo do Caçador) e em seguida do Queve (Cafula, Dala e Balalunga/Quilengue), assumem prioridade. No cenário de equilíbrio economia/território os aproveitamentos do rio Queve assumem prioridade relativamente ao Kwanza.

Finalmente, o cenário de desenvolvimento regional privilegia os aproveitamentos do Cubango (Mucundi) e Alto Kwanza (Quissonde) que se encontram no interior do país e, apesar dos maiores custos e impacto ambiental, apresentam os maiores benefícios ao nível agrícola. Neste cenário também o aproveitamento de Cafula no rio Queve, com forte benefício agrícola, assume prioridade.

 

HIERARQUIZAÇÃO DOS APROVEITAMENTOS EM CADA UM DOS 3 CENÁRIOS

PONTUAÇÃO DE CADA APROVEITAMENTO EM CADA UM DOS CRITÉRIOS

VARIABILIDADE HIDROLÓGICA E OPTIMIZAÇÃO/FASEAMENTO DOS PROJECTOS

Os principais rios de Angola, em particular o rio Kwanza, registam uma elevada variabilidade hidrológica não só ao longo do ano, mas também entre diferentes anos. O quadro anterior mostra o caudal médio verificado no rio Kwanza, a montante de Capanda, ao longo de 11 anos hidrológicos consecutivos, cuja média ronda os 650 m3/s. No entanto, o caudal chegou a atingir valores médios anuais superiores a 1000 m3/s e no ano hidrológico de 1971/72 o valor médio de apenas 312 m3/s.
Laúca, Capanda e Cambambe permitirão, na sua totalidade, armazenar cerca de 7.500 hm3 - apenas cerca de um terço da água escoada pelo rio Kwanza ao longo de um ano hidrológico médio. Estes reservatórios permitem a Angola utilizar a água do rio Kwanza de forma mais estável ao longo do ano ou nas horas mais necessárias, em particular em anos secos, mas não permitem a regularização inter-anual do rio.
Desta forma, Angola necessitará, no horizonte 2025, de outras alternativas complementares e de reserva para fazer face a anos como o de 1971/72.

Caso não fosse possível armazenar água no rio Kwanza e as centrais pudessem produzir em regime constante, a água disponível num ano seco extremo permitiria apenas contar com 1.200 MW de um total de cerca de 3.500 MW instalados no Kwanza até 2017/2018.

VARIABILIDADE ANUAL DO CAIUDAL DO RIO CUANZA (estação hidrométrica de Kangandala)

Como o consumo de energia eléctrica não ocorre de forma constante ao nível do dia e do ano, verificando-se a hora de maior consumo ao final do dia nos meses de verão, é possível através da grande capacidade de armazenamento das albufeiras utilizar estas centrais e a água disponível para produzir nas horas de maior necessidade do sistema. É essa a grande mais-valia dos grandes reservatórios de Laúca e Capanda nos anos secos.
Este benefício de utilizar as centrais hídricas do Kwanza, em anos secos, para fazer face às pontas do sistema, está limitado em 2025 a 3,4 GW (diferença estimada entre a ponta máxima do sistema e o vazio) – que corresponde aproximadamente à potência instalada sem Caculo Cabaça.

Caculo Cabaça com 2.000 MW estaria dimensionado para um caudal muito superior ao verificado em ano médio no Kwanza funcionando apenas a 43% da sua capacidade e, em ano seco, só conseguiria garantir 450 MW ao sistema. Uma abordagem faseada com a construção inicial apenas da obra civil e de 1000 MW permite ao sistema adiar um investimento significativo com o benefício de uma maior e mais estável produção por MW (77% de utilização em ano médio) e a mesma potência garantida em anos secos.

Na região Centro, prevêem-se vários possíveis novos empreendimentos no rio Queve, no rio Catumbela e na região de Andulo na província de Bié (rios Cutato, Cune e Cunhinga). O calendário de entrada dos novos empreendimentos seleccionados nesta região deve ser ajustado à evolução das necessidades do sistema, tendo-se considerado que o projecto hidrotérmico, pela sua modularidade, oferece maior capacidade de faseamento e optimização.
 

TAXA DE UTILIZAÇÃO DAS CENTRAIS HÍDRICAS EM ANO MÉDIO E SECO