EVOLUÇÃO DA PROCURA
Caracterização
Entre 2008 e 2014 o consumo de electricidade em Angola registou uma taxa de crescimento média anual de 15,5%. Com efeito, o consumo de electricidade referido à produção, sem contabilizar a procura reprimida e a procura abastecida através de geradores para autoconsumo, atingiu em 2014 os 9,48 TWh.
O forte crescimento do consumo de electricidade nos últimos anos, está associado: i) ao elevado esforço de electrificação que tem vindo a ser feito pelo Governo de Angola; ii) às melhoria das condições de vida das populações, o que se traduz num maior consumo de electricidade, e iii) ao aumento da capacidade de produção disponível.
Apesar do importante reforço da capacidade de geração disponível conseguido nos últimos anos, a procura encontra-se ainda reprimida verificando-se ainda cortes frequentes no abastecimento de energia eléctrica, bem como a utilização generalizada de geradores para autoconsumo, com maior incidência nos meses húmidos devido ao uso do ar condicionado.
Em termos geográficos, o consumo está ainda muito concentrado no sistema norte que representou em 2014 cerca de 78% do consumo total de electricidade no País. O peso do sistema norte deve-se essencialmente à província e cidade de Luanda onde, segundo o censo de 2014, vivem mais de 6 milhões de habitantes e onde se verifica a maior concentração de indústrias e serviços de todo o País.
O consumo de energia eléctrica em Angola é maioritariamente urbano e residencial. Estima-se que o segmento doméstico represente cerca de 45% de toda a produção, seguido dos serviços com cerca 32% e da indústria com aproximadamente 9%. Estima-se que as perdas técnicas na rede eléctrica estejam próximas dos 14% devido ao estado actual de conservação da rede (figura baixo).
DESAGREGAÇÃO DO CONSUMO POR TIPO DE CLIENTE E POR SISTEMA ELÉCTRICO (2014)
Projecção da procura
Até 2025 prevê-se um forte crescimento da procura que deverá atingir os 7,2 GW, ou seja, mais de quatro vezes a procura actual, estimando-se um crescimento médio anual de 15% até 2017 e de 12,5% entre 2017 e 2025 (ver gráfico da Evolução da ponta máxima anual do sistema até 2025). O maior ritmo de cresscimento previsto até 2017 está associado essencialmente à concretização do Plano de Acção para o período 2013-2017 e ao elevado nível de investimento aí previsto.
Ao nível da procura, foi considerada a possibilidade de serem implementadas indústrias intensivas, não previstas até ao momento, com uma potência de até 800 MW, bem como a possibilidade de exportação de energia para o mercado da SADC de até 800 MW adicionais. O ritmo de electrificação e industrialização do País exigirá o ajuste do calendário de investimentos na proporção da evolução da procura.
O consumo referido à produção deverá atingir os 39,1 TWh (ver gráfico da Evolução do consumo por tipo de cliente até 2025), em 2025 com um forte peso do segmento doméstico (37%) e um importante contributo dos serviços (28%) e da indústria (25%).
Angola registará assim um forte aumento do consumo, passando de um consumo médio de electricidade de 375 kWh por habitante em 2013 para 1.230 kWh em 2025.
EVOLUÇÃO DA PONTA MÁXIMA ANUAL DO SISTEMA ATÉ 2025
EVOLUÇÃO DO CONSUMO POR TIPO DE CLIENTE ATÉ 2025
Este crescimento resulta essencialmente de três factores principais:
ELECTRIFICAÇÃO O PAÍS E CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO
Constitui ambição da Estratégia Angola 2025 levar o acesso a serviços básicos de energia à população. Assim sendo, tendo em consideração a elevada dispersão da população e a extensão do território, o presente documento considera duas abordagens paralelas: i) por um lado, a electrificação dos principais pólos populacionais através de redes de energia ou sistemas interligados, onde se incluem a totalidade das sedes provinciais, de município e algumas comunas; ii) por outro lado, a prestação de serviços de energia assentes em soluções descentralizadas às populações rurais dispersas pelo território.
Ao nível do fornecimento de electricidade a partir de sistemas interligados é estabelecida uma meta de aumentar a electrificação dos actuais cerca de 30% para os 60% da população até 2025. Com esta meta prevê-se um total de 3,7 milhões de clientes em 2025 (mais do triplo do valor actual), ou seja, estima-se que mais de 18 milhões de pessoas venham a beneficiar da energia eléctrica.
As populações nas regiões isoladas serão fornecidas por soluções de mini-hídrica, solar ou diesel, de acordo com a melhor solução técnica e de custo/beneficio que se aplicar considerando que a população alvo é essencialmente de baixa renda.
CRESCIMENTO DA RIQUEZA DISPONÍVEL E DO CONSUMO DOS CLIENTES ELECTRIFICADOS
Devido ao aumento da riqueza nacional as famílias vão transformando esta riqueza em maior conforto, o que se traduz no aumento de consumo de energia eléctrica ao nível residencial. O aumento da renda familiar, por sua vez, pressiona a oferta de serviços, designadamente os associados ao turismo e lazer. Por exemplo, o maior investimento na prestação de serviços turísticos nacionais trará consequentemente um aumento do turismo internacional para Angola.
Na projecção da procura de electricidade verifica-se uma correlação directa entre o aumento da riqueza nacional (PIB) e o aumento do consumo de electricidade. Assim sendo, prevendo-se um crescimento contínuo do rendimento nacional espera-se uma forte pressão para o aumento da geração eléctrica disponível por forma a atender a demanda.
De modo a mitigar o aumento da geração necessária e garantir a segurança energética deverão ser tomadas medidas de mitigação do consumo tais como:
- Instalação de contadores pré-pagos (os clientes pagam o que é consumido, o que constitui um inibidor do consumo em excesso, e a empresa recebe por antecipação com melhor prestação do serviço);
- Aumento da tarifa (a maior influência no rendimento mensal familiar induz a necessidade de baixar
- o consumo);
- Eficácia comercial das empresas (instalação de contadores pré-pagos a todos os clientes, instalação de contadores fiáveis a todos os clientes de média e alta tensão, alternativas de pagamentos do consumo de electricidade - net/online, multi-caixa, estabelecimentos comerciais, etc.);
- Eficiência energética (introdução de medidas de mitigação tais como lâmpadas de baixo consumo, equipamentos electrónicos de baixo consumo, paineis solares térmicos em locais públicos e privados para produção de água quente, educação para o uso eficiente de energia eléctrica).
A modelação destes vários efeitos, resulta num aumento do consumo do segmento doméstico e serviços por habitante electrificado de 1,2 MWh/pessoa para 1,5 MWh/pessoa em 2025 (2,3% de taxa de crescimento média anual). O gráfico seguinte ilustra o forte impacto dos efeitos de mitigação, com reflexo no custo da energia (tarifa, pré-pago e eficácia comercial), e da eficiência energética na evolução da procura, sem os quais o consumo do segmento doméstico e serviços seria maior em 42% aumentando a carga do sistema em 2025 para valores em redor dos 9,5 GW (figura abaixo).
EVOLUÇÃO DO CONSUMO DOMÉSTICO E SERVIÇOS POR HABITANTE ELECTRIFICADO
INDUSTRIALIZAÇÃO DO PAÍS
A forte aposta da Estratégia de longo prazo Angola 2025 na industrialização do país é concretizada não só pelo Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017 onde se estabelecem projectos estruturantes e prioritários, mas também pelos recentes instrumentos de planeamento sectoriais, designadamente o Novo Plano para a Industrialização do país e o Plano Director do Turismo. Esta aposta é ainda reforçada pelo Programa de Acelaração da Diversificação, que visa diversificar as fontes de riqueza do país.
O peso histórico da indústria no total de produção de energia eléctrica - em redor dos 8% - é o mais baixo entre os principais países da SADC.
A forte perspectiva de crescimento do segmento industrial é suportada pela existência de um conjunto alargado de mais del 160 projectos estruturantes concretos, em diferentes fases de desenvolvimento, agrupados em diferentes clusters cujas necessidades energéticas e perspectivas de crescimento suportam a meta de 25% do consumo de electricidade com origem no sector industrial. Os Pólos de Desenvolvimento Industrial e os recursos minerais – com destaque para o ferro – representam o principal crescimento, logo seguidos do cluster da agro-indústria, da habitação e construção (com forte peso das cimenteiras) e demais indústrias.
A perspectiva de uma grande indústria intensiva com uma carga de pelo menos 0,8 GW, pela sua dimensão, foi contabilizada de forma autónoma prevendo-se soluções de contingência, em termos de geração, caso se verifique a concretização do projecto. Adicionalmente, a possibilidade de Angola exportar foi também considerado de forma autónoma.
PESO DA INDÚSTRIA NO TOTAL DA PRODUÇÃO ELÉCTRICA NOS PAÍSES DA SADC (IEA, 2009)
LOCALIZAÇÃO E ESTIMATIVA DO CONSUMO DOS CLUSTERS PRIORITÁRIOS ATÉ 2025
EVOLUÇÃO DO CONSUMO, COMPARAÇÃO INTERNACIONAL
É possível desagregar o consumo eléctrico por habitante nos três efeitos principais referidos (taxa de electrificação, consumo residencial e serviços por habitante electrificado e peso da indústria) e comparar Angola com outros países. A figura 9 compara o consumo de Angola – histórico e projectado - com a África do Sul, Nigéria, Brasil, Portugal e Estados Unidos.
Os valores apresentados para Angola foram corrigidos do efeito da procura reprimida e não cadastrada. Angola apresenta um valor de consumo per capita apenas superior ao da Nigéria que apesar de apresentar níveis de electrificação e industrialização superiores, regista um consumo muito baixo por pessoa electrificada devido aos elevados níveis de procura reprimida e utilização de geradores.
A figura seguinte demonstra que as previsões para Angola em 2025, apesar das elevadas taxas de crescimento anuais, são realistas:
- A taxa de electrificação dependerá essencialmente da capacidade de investimento e de execução do país, verificando-se que a maior parte dos países desenvolvidos já atingiu a plena electrificação dos seus territórios;
- Ao nível do consumo doméstico e serviços por habitante electrificado, a estimativa de um aumento de 1,2 MWh/habitante para 1,5 MWh/habitante em 2025, está ainda assim significativamente abaixo dos 2,1 MWh/habitante registados em África do Sul em 2009, e dos valores de Portugal ou Estados Unidos;
- A meta de 25% de peso da indústria reflecte a forte perspectiva de projectos mineiros e industriais. A título de exemplo, na África do sul a indústria representa 59% do consumo total e no Brasil 46%.
DESAGREGAÇÃO E COMPARAÇÃO INTERNACIONAL DOS CONSUMOS POR HABITANTE